A BIBLIOTECONOMIA EM RONDÔNIA E O CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA DA UNIR
Localizado no Norte do Brasil, Rondônia é o terceiro estado mais populoso da região, com 1.777.225 habitantes em 2019 (IBGE, 2020), sendo superado apenas por Pará e Amazonas. O estado é constituído por 52 municípios, dentre eles a capital rondoniense, Porto Velho, que completou 105 anos de vida em 2019. Situada ao leste do Rio Madeira, foi fundada em 1907 por meio da construção da ferrovia Madeira Mamoré e transformou-se em capital do estado em 1943, quando foi criado o Território Federal do Guaporé (LIMA, 2020).
Como qualquer capital, a busca por maturidade social, econômica e política é constante, observada ao longo de sua trajetória por meio das diversas fases de povoamento e ciclos de desenvolvimento sazonais – passando pelo ciclo da borracha, do ouro e culminando nos últimos anos com a construção do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira (ALVES; THOMAZ JÚNIOR, 2012), eventos que favoreceram sobremaneira o desenvolvimento da região e a miscigenação do povo rondoniense. Essa diversidade cultural propiciou para Porto Velho um espaço de firmações e diferenças socioculturais, com uma diversidade de imaginários e práticas, regidas por diferentes tons culturais provenientes das correntes migratórias e da forte tradição indígena amazônica (DIÁRIO DA AMAZONIA, 2020).
No entanto, a influente migração interna e externa não delineou um cenário cultural promissor, mas desconexo e sem incentivos. A exemplo disto, encontramos a reforma agrária promovida com o auxílio das políticas de desenvolvimento nacional, que visou apenas uma ocupação de terras e produtos agropastoris para suprir as necessidades e acomodar os grupos migratórios. Tal episódio resultou na criação de uma sociedade que não contava com nenhum tipo de estrutura social, sobretudo relativo à educação e à cultura.
Diante deste cenário, surge então a preocupação com a promoção do bem-estar da sociedade, por meio de ações culturais, educacionais e sociais que viessem desenvolver e fortalecer a consciência social do indivíduo, bem como sua inclusão em uma sociedade já movida pela informação e conhecimento.
Assim, a criação de instituições de cunho educacional e cultural que oferecessem informação e conhecimento de forma organizada e atualizada, passa a ser a inquietude da sociedade da época. Traçando metas para sanar essa lacuna social, o poder público elabora projetos para a efetivação dessas instituições na capital, por meio dos quais foram instituídos bibliotecas, centros culturais e a Universidade federal de Rondônia, inaugurada em 1981. Nesse rol, podemos destacar também as três bibliotecas públicas de Porto Velho utilizadas até o dia de hoje: a Biblioteca Municipal Francisco Meirelles (inaugurada em 1975), a Biblioteca Estadual Doutor José Pontes Pinto (inaugurada em 1975) e a Biblioteca Municipal Viveiro das Letras (inaugurada em 2010).
Contudo, a criação dessas instituições gerou outra necessidade latente, a de profissionais bibliotecários capacitados para gerenciar os produtos e serviços de unidades de informação, considerando que os primeiros profissionais migraram de outros estados para o suprimento emergencial dessa demanda. Assim, para preencher a visível lacuna da sociedade rondoniense, nasce o curso de graduação em Biblioteconomia da Universidade de Rondônia, com a entrada da primeira turma de alunos no segundo semestre de 2009.
O projeto do curso foi pensado e elaborado a partir da motivação advinda das propostas de financiamento do governo federal por meio do REUNI. No entanto, por questões políticas internas da UNIR, o almejado financiamento nunca chegou efetivamente, fato que marcou a trajetória de superação e progresso da Biblioteconomia de Rondônia, que, mesmo sem as condições necessárias, cresceu e hoje se encontra em fase de consolidação, formando no ano de 2019 a sétima turma de profissionais bibliotecários.
Em essência, o curso atualmente conta com: um corpo docente de 10 professores, dentre os quais 4 são doutores, 3 mestres e 3 doutorandos; um curso de doutorado interinstitucional (DINTER) em Ciência da informação (CI), num convênio com a USP, para formar doutores na área com a finalidade da criação do mestrado em CI; projetos de extensão e de pesquisa em andamento, buscando oferecer para a sociedade serviços e produtos informacionais de qualidade; além de um trabalho em conjunto com o curso de jornalismo, transferido do campus de Vilhena para a capital e acolhido pelo Departamento de Biblioteconomia. O ingresso no curso de Biblioteconomia ocorre anualmente e são oferecidas, a cada espaço temporal, o quantitativo de 50 vagas para novos alunos.
Dois momentos foram marcantes para a consolidação do curso: a mudança da designação, ocorrida em 2011, e a otimização da grade curricular, por meio da atualização do Projeto Pedagógico do Curso (PPC), que resultou num novo currículo em 2018.
Quanto ao primeiro momento, vale ressaltar que o curso de Biblioteconomia incialmente foi criado com a designação de Ciência da Informação. Após dois anos de funcionamento, em 2011, ocorreu a mudança para atual denominação, por força de uma reivindicação dos alunos que almejavam entrar no mercado de trabalho em conformidade com as bases institucionais da área, ou seja, com as normas do Conselho Federal de Biblioteconomia que não regulamenta os cursos de graduação em Ciência da Informação.
Após a efetivação do novo nome, o curso passou a direcionar sua atenção para a grade curricular, que também necessitava de alterações para uma eficaz formação do corpo discente – trata-se do segundo ‘momento marcante’, mencionado anteriormente. Com um alicerce para o Bacharelado em Ciência da informação, o primeiro PPC foi constituído por uma grade curricular cujo foco estava voltado para a formação de especialistas em informação, com um arcabouço teórico que não cumpria as funções para adequada formação de um profissional bibliotecário, considerando que as técnicas bibliotecárias não eram privilegiadas no escopo do projeto. Assim, em 2014 iniciaram-se as análises para elaboração de um novo currículo que abrangesse realmente um conjunto de conhecimentos oriundos da área bibliotecária, com fundamentos teóricos, técnicas aprimoradas e alinhamento ao contexto regional. Enfim, no ano de 2018 o novo currículo encerrou seus trâmites burocráticos, sendo aprovado e colocado em uso pela turma de alunos do primeiro período do exercício de 2019.
De acordo com o novo PPC (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA, 2018), a grade atual integra disciplinas que estão voltadas para a formação de profissionais que atuem em diversos tipos de bibliotecas, bem como no atendimento às empresas, indústrias, websites, sintetizando, em todos os setores que trabalham com o processo de desenvolvimento do Estado e suas potencialidades, por meio da informação e/ou documentação.
Para tal, os conteúdos e atividades elaboradas para o desenvolvimento do curso, aliam experiências individuais de cada aluno, necessidades e contextos da região, técnicas bibliotecárias de organização e gestão da informação, fundamentos teóricos da área e tecnologia da informação. Elementos que, utilizados de maneira eficaz, suprem a demanda de uma sociedade que necessita de produtos e serviços de informação para o seu desenvolvimento e bem-estar.
DE LUCCA, Djuli Machado; FERNANDES, Joliza Chagas; MAROLDI, Alexandre Masson. 10 anos do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Rondônia (2009-2019): a trajetória apresentada por meio dos Trabalhos de Conclusão de Curso. In.: inFORMAÇÃO em Biblioteconomia. Manaus: Editora da UFAM, 2020. (Livro em processo de Diagramação Final. Previsão de lançamento: junho de 2020).